22/06/2009

A Despedida



Caros leitores,

É com alguma nostalgia que anuncio o fim deste blog. Porém, não faz qualquer sentido manter algo que nada acrescenta ao meu bem-estar. A pessoa descrita em todas estas linhas já não corresponde, de todo, à pessoa que sou hoje. Se é que sou pessoa.
Resta-me agradecer todo o apoio prestado, não só aqui, mas na minha vida. Obrigada.




Yirien

09/05/2009

viver.


Dúvidas surgem em todo o lado, a toda a hora. E não me podiam assombrar mais.
Dúvidas sobre quem sou, dúvidas sobre o que gosto, dúvidas sobre o que quero.
Só sinto o vazio. Um enorme vácuo, sem vozes que me guiem. Apenas um choro. Uma voz que ecoa por dentro cada vez que sai alguma palavra cá para fora, e que pede ajuda.



Ensinem-me a viver.

05/05/2009

Juventude


Outrora os pés moviam-se em torno de uma mensagem simultaneamente escura e cristalina, moviam-se em busca de um ideal. Éramos assim, dávamos uso ao vigor físico que a tenra idade nos proporcionava.
Que somos agora? As mãos movimentam-se debilmente pelo chamado progresso tecnológico, sem um objectivo, desfrutando apenas de um ócio que, antagonicamente, nem traz qualquer prazer. O único ideal é a imagem do ser que, por qualquer razão frívola, deveríamos encarnar. Não só um reflexo físico, mas também social: toda a pessoa deve ser importante, não possuir um segundo de tempo livre, ter em mãos uma lista telefónica grande e de uso frequente… É assim a juventude dos dias de hoje.
E sinto que não lhe pertenço. Uma mera repetidora de ideias, esta juventude, onde a saída do Sábado passado tem mais mérito do que ler um livro internacionalmente reconhecido. Onde o sinónimo de inovação é aquele aparelho que está nas lojas desde as últimas vinte e quatro horas. Onde tudo tem um preço.
É com embaraço que descrevo os meus contemporâneos, cuja viga de que são feitos deixam coradas as anteriores gerações de revolucionários, lutadores, sonhadores! Para eles talvez seja eu o borrão de toda esta estória, todavia interrogo-me: Como é que é possível enquadrar-me nesta tela onde é preferível ser ignorante a culto?
Pois bem, talvez os ignorantes sejam mais felizes (no sentido mais irracional da palavra), mas como comparar essa “felicidade” com a satisfação do conhecimento? Cadê do progresso humano?

04/04/2009

Querido leitor,


Já não escrevo há algum tempo. Creio que perdi qualquer talento que os primeiros dias de adolescência me trouxeram. Pois bem, se há dois anos atrás me orgulhava da emoção que conseguia transmitir em cada parágrafo que fluía no encéfalo, torna-se agora uma autêntica tormenta verificar quantas criaturas conseguem exprimir o que lhes vai na alma tão bem (ou melhor!) do que eu.

O expoente máximo do meu curto entusiasmo terá sido, quiçá, o “Cinco Barracas de Latão”, conto que escrevi em Dezembro de 2007 com o intuito de oferecer a um alguém que só o leu após o dito conto ter ganho um prémio regional.

A partir daí, a monotonia cíclica do meu quotidiano e o desgaste de dias menos vindouros obrigaram a recorrer ao dicionário com mais frequência e a um certo receio de agarrar em papel e caneta. Sim, a frustração é um sentimento com o qual ainda estou a tentar aprender a lidar.

Releio agora este blog e penso que em nada evoluí. Ou melhor, a minha forma de pensar mudou radicalmente, mas ainda recorro às mesmas técnicas de escrita (se é que tenho algumas!) e os temas dos meus monólogos baseiam-se, infelizmente, no mesmo: as minhas curtas experiências amorosas, esse pano que tanto ainda tem por desdobrar.

De hoje em diante, decido algo de novo: sem tentar tornar as coisas demasiado abstractas, relatarei então a adolescência segundo os meus olhos.

Perguntar-me-ão agora: E não é isso que costumas fazer sempre?

Não. Eu limito-me a confessar as minhas experiências de forma intimista e através de metáforas de fraco valor estilístico. Nunca tento retirar quaisquer conclusões nem aproveito o meu pequeno dom de observação para enriquecer os meus textos.

Despeço-me assim, agradecendo a todos os que se deram ao trabalho de ler os desabafos desta pequena amadora, e à respectiva divulgação.

Um abraço caloroso,

Yirien

25/01/2009

Obrigada.


Desta vez não vou relatar ódios, ou rancores, ou desamores. Vou escrever sobre ti, meu querido.

Provavelmente, se fosses só mais um, estaria agora a criticar-te e a denominar-te coisas não muito agradáveis enquanto rangia os dentes. Simplesmente, não consigo. És demasiado especial para nutrir essa espécie de sentimentos por ti.

Bem sei que explicitaste da forma mais clara possível para não ousar a dirigir-te de novo a palavra, mas não resisti. Existe demasiada comunicabilidade telepática entre nós. Se, no silêncio fúnebre do meu quarto, colocar as mãos de modo a tapar os ouvidos e fechar profundamente os olhos, ainda consigo sentir a tua presença. Os teus beijos ternos, a tua voz doce, o teu toque… Algumas memórias já se encontram gastas e desvanecidas pelo tempo que urge, todavia, apesar disso, o mais importante continua bem aceso na minha memória.

Este pequeno desabafo não é mais uma das extensas cartas que te costumava enviar. Por falar nessas cartas, espero que ainda as guardes religiosamente, que as beijes na tentativa de sentir a ternura das minhas palavras, e que mantenhas as minhas fotografias na tua carteira. Talvez seja irrelevante escrever-te todos estes pequenos pedidos, já nem este blog deves consultar…

Quem sabe se todos os teus sentimentos por mim já se apaziguaram com o vento e frio dos últimos dias… Sabes que mais? Se tal já se sucedeu, deixo-te os meus sinceros parabéns. Oxalá eu também conseguisse fazê-lo… Não que te queira “esquecer”, mas para que possa “seguir em frente”… Estou acorrentada pelo passado e ninguém me dá as chaves para que consiga fugir para o futuro… Estas correntes são deliciosas.

Deste-me os melhores e os mais especiais momentos da minha vida. Foste, num espaço de um ano, o meu melhor amigo, o meu companheiro de gargalhadas, o meu irmão, o meu namorado, o meu psicólogo, tudo. Bastavas-me tu. Se for preciso esperar mais dois anos e uns meses para te ter de volta, eu espero. Só não me deixes a sofrer neste lago de incertezas, diz-me que sim, que ainda me amas… Que seremos felizes juntos…

17/12/2008

Auto-retrato


(Texto elaborado para a disciplina de Português)



Quem sou? Consta que sou a Patrícia Simões. Quem é a Patrícia Simões? Sou eu. Mas eu não sou só a Patrícia. Ou melhor, a Patrícia é muita gente. E afirmo de imediato que terei alguma dificuldade em estruturar uma definição de mim mesma.
Sou uma rapariga do campo, tanto no sentido figurado como literalmente. Vivo num desterro, cercada de ervas daninhas e árvores de folha permanente, e estou irreversivelmente apaixonada por toda esta paisagem. Já a praia, gosto mais dela de Inverno, quando tudo tem aquele ar nostálgico e artístico, e não temos turistas obesos a chapinhar na água mil vezes urinada à beira-mar. O nascer do sol fascina-me mais que o crepúsculo.
Por detrás deste ar natural, sou uma obcecada pelo suburbano, pelas ruínas, pela podridão, pelas paisagens degradantes. Sinto-me bem em ruas vandalizadas, recheadas de vidros partidos e beatas de cigarros. Gosto de me sentir parte dos rostos tristes que passeiam por estes ambientes underground, gosto de me sentir abaixo de tudo. De ter a roupa suja e rasgada. De me sentar nos passeios e observar tudo da maneira mais transparente possível.
Sou uma pessoa solitária, aprecio imenso estar sozinha a ouvir umas músicas lamechas e a escrever num caderninho comum. Longe vão os tempos em que fui um ser extremamente divertido… Estou mais fechada, sou uma adepta do doce sabor do silêncio. E, por estranho ou incrível que pareça, sou mais feliz assim. Sou mais feliz não tentando sê-lo.
Rancorosa? Sim, infelizmente sou-o, e muito. Presumo que tal se deva à minha aguda sentimentalidade. Não digo que me apaixono facilmente, contudo, quando tal se sucede, tenho dificuldade em assumir que fracassei novamente nas amizades que escolhi. Por isso refugio-me no rancor e no quase ódio.
Provavelmente, ou talvez nem por isso, já terão entendido que sou uma praticante de fotografia, pelo menos penso ter sugerido isso pela forma como me referi ao que me rodeia. Sou fã de Frida Kahlo e de Salvador Dalí. Também sou admiradora da música e no cinema. No geral, pode-se dizer que sou uma amante da arte e da cultura.
A minha única religião é a comida. Doces, salgados, carne, peixe, vegetais, fruta, arroz, massa, aqui todos caem e se acumulam no meu estimado pneuzinho… Gula, avareza, luxúria, ira, preguiça, inveja e vaidade. Destes pecados, só não possuo a avareza.
Enfim, certamente que faltam aqui muitas coisas, mas não entrarei em grandes pormenores. Por enquanto, aqui fica esta tentativa de definir alguém que nem sempre sou…

08/11/2008

Homicídio




O tempo pode ter apaziguado a dor, mas não apagou o rancor. Sinto-me terrivelmente tentada a cometer uma loucura, loucura essa da qual o teu sangue será o pano de fundo. Fazes-me ser tão cruel! Como pode o ódio tomar estas proporções?!
Ainda não consigo controlar as lágrimas. Já passaram cinco meses e ainda sinto cada bofetada tua! Como pudeste exercer tamanha insensibilidade sobre mim?! Não terei eu o direito de ser humana aos teus olhos? Porquê? Bolas, PORQUÊ?!
Odeio-te! Odeio-te! Odeio-te! Odeio-te! Odeio-te! Desaparece de uma vez por todas da minha vida!
Não me conseguirás agora fingir umas palavras doces de ânimo, como todas as outras mentiras que me sussurraste? E aquele telefonema… Um tímido “acho que gosto de ti” que me entrou pelos tímpanos como uma doce melodia que me arrepiou, que me deixou rendida! Frágil, fiquei tão frágil! E a vida, de repente, ficou tão fácil! Eu brilhava, eu rejubilava! Sabias que era cega por ti? Fazes ideia do quanto fantasiei contigo? Eras tudo para mim, tudo!
Num ápice, numa só noite, tudo mudou. Fazes de mim um monstro. Tornas tudo em mim tão incoerente, tão ilógico! Fazes de mim uma assassina!
Às vezes sonho que tudo volta ao início, que volto a preencher folhas de papel exclusivamente com o teu nome. Por que não me consigo separar da tua memória? Desaparece, desaparece!
És um pedaço de esterco, e eu não fui a única que afastaste. Já ninguém te quer. Quero-te ver tão mal, tão mal! Força, bate com a cabeça na parede! Sozinho, isolado de todos! Sofre, para sentires o que eu senti! Chora, para veres quantas lágrimas derramei! Morde as tuas mãos com toda a raiva que inunda o teu espírito, para tocares nas cicatrizes que eu ainda não consegui sarar! Por fim, leva a faca ao teu ventre. Penetra-a bem, com tanto prazer como da vez em que a fizeste gemer! Fecha os olhos e ri-te, como o falso sorriso que esbocei quando as tuas façanhas me invadiram o encéfalo! Agora, pára de respirar. MORRE!!!

25/09/2008

Francisco morreu.


Morreu, morreu e morreu. Talvez seja necessário repetir isto umas mil vezes até me mentalizar que é verdade.
Sem glória? Não sei, não sei… Quem é que morre glorioso? Talvez um taradinho com uma arma que se alistou no Exército para defender interesses que nem são seus. O Francisco morreu glorioso, foi um lutador, sempre.
Terei de ser mais sincera que nunca: eu não sou a Ana e o Francisco não tinha leucemia nem se chamava Francisco. Era o Miguel e tinha um tumor no cérebro.
Morreu numa cama de hospital e estava em coma há quase quatro meses. Os pais decidiram desligar as máquinas, segundo o que ouvi.
Recebi a notícia ontem de manhã, bem cedinho, por uma rapariga que também fizera parte da sua vida. Não me contive e as emoções falaram mais forte. Foi duro, muito duro. Ainda o está a ser.
A última vez que o vi foi em Fevereiro, num concerto. Ele quis conversar comigo e eu respondi, bruscamente:
- Deixa-me em paz, não me procures mais!
Ele era um fantasma do passado que me perseguia, mas a partir daí nunca mais me contactou. Pudera…
Muitas pessoas me elogiam de como eu fui corajosa em continuar ao lado de uma pessoa que não era igual às outras. Era um rapaz que não me poderia dar um futuro, repetia a minha mãe vezes sem conta. Provavelmente nunca me daria filhos. Não conseguia estar muito tempo sem tremer. Coxeava. Via muito mal. Tinha algumas dificuldades em comer de forma asseada. Mas sim, eu continuei com ele. E continuei também a considerar-me uma cobarde.
Terminámos o que tínhamos dois meses e meio depois de iniciarmos esta suposta loucura em que ambos sofremos dadas as circunstâncias. Mas não me arrependi. Não me arrependo. Ele ensinou-me muita coisa. Ensinou-me a ser forte, a lutar pelo que queria, a não ter medo de deitar tudo a perder. Ensinou-me a enfrentar os meus progenitores. Ensinou-me o valor da (débil) vida.
O Miguel foi a pessoa mais lutadora que conheci. Um exemplo. Claro que cometeu erros, erros esses que até lhe prejudicaram a saúde. Devorava cigarros e tomou outras atitudes que, felizmente, a experiência e o tempo lhe ensinaram que estavam erradas.
O funeral foi horrível. Horripilante. Assustador. Arrepiante. Melancólico. Diria mesmo traumatizante. Não faltaram lágrimas derramadas que brotavam como riachos nas margens das bochechas de cada um dos presentes. Não tive coragem de lhe observar a face por completo. Mal lhe avistei uns centímetros da testa e dos olhos, o coração estoirou num intenso horror. As pernas baloiçaram, desequilibradas. A cabeças rebentou num turbilhão de memórias. O choro, esse, não cessava.
Quando contei toda a “nossa história” a um confidente íntimo, este comentou que a achava muito bonita, mas eu não vejo nada de bonito neste cruzamento de almas solitárias. Claro que marcou, marcou muito. Não só por ele ter esta doença e por ter falecido, mas também (aliás, sobretudo), por ter sido uma pessoa muito especial. Imensamente especial. Intensamente especial.
Neste momento sou um pedaço de nada, um cérebro vazio reduzido a três ou quatro meses de existência…
O Miguel morreu. Morreu, morreu e morreu.

01/07/2008

[14 de Junho]


Antes de começar a escrever a sério, é importante referir que o meu novo desodorizante tem um cheiro muito agradável. Uma sensação fresca, presumo. Um toque suave e macio como uma loção perfumada. E que, inevitavelmente, me lembra o Verão.

Hoje tive uma sensação que há muito não sentia. Quebrei as regras. Uma discussão acendeu-se durante o almoço, uma taça de morangos voou e pronto: - “Bem podes esquecer os teus planos de férias, minha menina!”.

Se fosse há três, quatro meses atrás, eu já estaria a lacrimejar que nem uma Madalena arrependida, mordendo as mãos até fazer marca, aos gritinhos que tinha por hábito abafar na almofada... Agora? Levantei-me, varri os cacos, lavei os dentes e meti-me a ler um romance novecentista. Chorar? Nem uma lágrima, nem daquelas atrevidas que nos humedecem ternurosamente as bochechas.

Desde o início de 2007 que me preocupava excessivamente em ser feliz. Queria a vida perfeita: boas notas, um círculo de amigos razoável e um namorado que me telefonasse a desejar as boas noites. Entre uns copinhos partidos e uns pacotes de pastilhas elásticas, consegui tudo isso. Finalmente esmaguei esses pensamentos de vida estável. Quanto mais nos preocupamos em ser felizes, menos o somos. A verdade é que já fui muito feliz com as anteriormente referidas dávidas. Faltam-me agora algumas dessas doçuras da alma, mas sou feliz na mesma. Que me rala isso? Nem uma nódoa negra.

A minha vida não tem que ser nada de especial. Porque terei eu de exibir um futuro exemplar? Para isso, já bastam as novelas! Já não vou de comboio lá ter com eles, e depois? Não tinha tudo de correr às mil maravilhas! Não preciso de falar muito, seja como for, quem eu mais preciso de agradar não me quer ouvir. Não necessito de sair com um grupo de jovens de camisolas estampadas para dizer que tenho uma vida social. Tenho mesmo obrigatoriedade de a ter?... Não tenho que ter sempre a depilação das axilas impecável, digam-me agora que não tenho direito a desleixar-me um pouco!

Tendo um livrinho ou outro para fantasiar, papel e caneta para desabafar e uma máquina fotográfica para tornar belo aquilo que não é, estou nas nuvens!

Não posso, no entanto, esconder a revolta pelo que ela me disse hoje: “Tu, a trabalhares? Não fazes nada, não sabes fazer nada!”. Sei que tem razão, e se tivesse engolido um sapo não teria ficado trancada toda a tarde no quarto… Mas caramba, não sei fazer nada? Posso não saber fazer uma cama sem deixar uma pontinha que seja amarrotada, posso sujar um pouco a cozinha quando preparo um bolo e salpicar o espelho quando lavo a cara, mas há algo que sei fazer, talvez a única: SENTIR.

Olhar para a minha mão, envelhecida e ressequida, com as veias sobressaídas, e saber reconhecer-lhe o encanto, a beleza da experiência. Conseguirá ela fazer isso olhando para as suas rugas? Palpar o pó do mobiliário e ter uma sensação de conforto, sentirá ela isso? Deitar-se na terra enlameada e querer todo o corpo envolto nela, sentir-se orgânica, suja, verá ela o prazer de tal acto? Numa bonita paisagem natural, que fará ela para além de exclamar “Oh, que bonito!”? Eu foco campos de profundidade, comparo as formas e os tamanhos, transporto o olhar até ao ângulo que compõe a melhor imagem.

Pois, sentir não traz dinheiro, nem uma carteira de contactos, nem uma casinha e vida organizada, digna de ser comentada: “Aquela fulana é mesmo ajeitadinha, tem um bom emprego, um bom marido, filhos, um jardim com amores-perfeitos…”. Não é isso que quero, não é isso que procuro.

Só quero tocar-me e sentir o afecto que por mim só eu mesma tenho!...