Breve resumo da ilusão

Sou uma mentirosa. E das grandes.

Sorrio, mas no fundo quero chorar… Cruzo-me com alguém e esboço um grande sorriso, um grande bom dia, e dou uma daquelas gargalhadas, mas sinto-me um hipócrita total. Todos os dias me finjo alegre, me rio, iludo-me a mim mesma intitulando-me “um bicho social”.

Para que rio se choro os dias? Se todos os dias desabafo com as paredes, desabafo com a minha cama, desabafo com a secretária que esbate as minhas lágrimas?!

Impingem-nos de tretas que temos de ser nós mesmos, e que é o máximo ser diferente e ter os nossos ideais e convicções! Inventam-nos que vamos encontrar a felicidade, que todos somos felizes! Que mentira descarada! A felicidade são meros momentos… Porque ninguém vive feliz, porque não nascemos destinados a ser símbolos mundiais! E eu, que me acho tão madura, tendo outras pessoas que concordam com a visão de mim própria, acreditei com uma forte esperança que tal era possível! Hoje penso incredulamente como me deixei ser levada como uma leve folha pela suave brisa com a força de um temporal…

Mas também que esperava? Ser a Florbela Espanca da prosa?! Ou ser a pessoa perfeita para todos? Um ídolo? Mas onde estava eu com a cabeça? Não nasci destinada a nada, não sou mais que a minha colega de turma, não sou absolutamente ninguém! Eu não existo! A verdade é que sou aquilo que a sociedade quer, deixemo-nos de falsas simpatias! Essas ideias e princípios não existem realmente! É tudo treta. Parecido aos panfletos da nova bebida light! A sociedade é como uma bola de neve, não há ninguém que comanda realmente, seguimo-nos mutuamente, sem termos propriamente uma referência, uma pessoa, fazemos o que os outros fazem! Esses, por sua vez, fazem aquilo que outros fazem! Não há líder.

E de que me queixo eu? Daquilo que o meu coração mais pede e aquilo que me mais me recusam em dar: AMOR.

Porque eu sou sempre a amiga, a melhor amiga, e sempre o serei. Nada mais. Sou aquela em que todos podem confiar os seus mais ínfimos segredos. Sou aquela miúda que faz todos rir, mas ninguém me vê de outra maneira. E não sei a razão pela qual estou a dizer isto agora, a razão pela qual abro a minha vida a quem a quiser ver. Porque não escondo eu nada de ninguém? Estarei assim tão necessitada de ser o centro das atenções?

Aliás, que pretendo eu com este blog? O QUÊ?!

Se for avaliar o meu comportamento face a outras pessoas, diria o que um dia alguém me disse: “É da idade!”. Mas não sei. Já não sei nada.

Isto que acabei de escrever não me faz mais feliz. Não me vou valorizar mais por isso. Vou seguir o meu caminho, como faço todos os dias. A minha alma nunca mais se recuperará... Porque seria preciso nunca ter sido nascida para mudar o rumo da minha vida… Tal não vai acontecer. Resta-me esperar, junto de todo o outro lixo do mundo, a hora da minha morte…