07/05/2007

F R A N C I S C O


Era hora de almoço, e como as minhas amigas tinham ido comer fora, fiquei sozinha, rabiscando o manual de Matemática.
Junto do laranjal, pude avistar o Francisco. Tinha um ar triste e estranhei o facto de se encontrar isolado. Fumava um cigarro. Era agora. Tinha de aproveitar o momento para esclarecer certas coisas. Por outro lado, tinha medo. Medo do que ele pudesse dizer. Demonstrava uma faceta tão deprimida sempre que falávamos na Internet! Respirei fundo, ganhei coragem e lá fui.
- Olá.
- Oi miúda. Tudo bem?
- Comigo está, já tu... Preciso de esclarecer umas coisas. Estás-te sempre a queixar da vida e nunca me soubeste explicar porquê! Porque não me contas o que se passa? Talvez eu te possa ajudar... - e sem que precisasse de falar, partilhou toda a sua apatia comigo.
- Acredita que não podes ajudar. Obrigado na mesma.
- Mas eu quero saber! Eu considero-me tua amiga e faço qualquer coisa para que te possa ver a esboçar um sorriso! - e os meus olhos humedeceram-se, imitando os dele. - Conta-me, Francisco...
- Foda-se, pensas que é fácil dizer-to? - e ergueu-se furiosamente. - Compreendo perfeitamente que tenhas curiosidade, mas não queiras saber: é demasiado mau.
- Francisco! - e levantei-me também. - Estás-me a deixar verdadeiramente angustiada! Conta-me de uma vez por todas! - a minha voz já possuía um tom um pouco desesperado.
- Está bem, está bem. Eu... eu... - e por momentos hesitou. Eu tenho leucemia.
Fiquei em choque. Era isso? Naquele instante desejei não ter querido saber. Lacrimejei, e como não tinha reacção para mais nada, abracei-o. Quase que juro que vi as laranjas tornarem-se negras e a erva rastejante em rios de sangue. O Francisco tinha cancro. Deixei escapar um suspiro.
- Miúda, nem imaginas o que sofro... Todos os dias são medicamentos e mais medicamentos! O que mais me irrita são as pessoas que sabem disto, elas têm pena! Aí está a razão pela qual não pretendia que soubesses. - e fitou-me olhos nos olhos, como se me estivesse a ordenar algo. - NÃO QUERO QUE TENHAS PENA DE MIM!
- Francisco... Nisso podes ficar descansado. Agora todas aquelas frases, os teus pensamentos, tudo isso faz agora sentido! Não te posso ajudar da maneira que queria, mas se precisares de desabafar, já sabes a quem recorrer.
- Obrigado, mas pareces estar com pena de mim.
- Nada disso. Aliás, não te vou dizer para teres paciência e para rezares uma missa. Eu não quero é que te vás abaixo, tens de lutar muito. Eu acredito que tens força de vontade suficiente para combateres a doença! - exclamei, tentando digerir quase instantaneamente toda aquela informação.
- Eu vou ser operado em breve.
- Vais ver que vai correr tudo bem. Já tocou há séculos. Tenho de ir.
- Eu também. - e apagou o cigarro com o pé.
- Vais ver que vai correr tudo bem. - repeti, passando-lhe a mão pelo ombro.


Dedicado a uma pessoa que sabe perfeitamente que é dedicado a ela. Força, vais conseguir superar tudo isso! Vais ver como vais conseguir: eu acredito em ti.

4 comentários:

Anónimo disse...

Lol ta fixe!
jinhuz!

Anónimo disse...

Ta mto fixe! Mas.. eu sei! tbm to kom ele! :D

Mari

Yirien disse...

Exactamente Marisa...
É mesmo isso que estás a pensar..

Johnny disse...

ximplesmente....maravilhoso!
tens um jeitu natural para istu.
adurava conhecer-te pois as tuas histórias são fascinantes